terça-feira, 3 de julho de 2012

           Jesus derruba a mesa dos cambistas



        São três evangelistas que relatam este episódio: Mateus 21. 12-14; Marcos 11. 15-18 e Lucas 19. 45-48. Cabem alguns questionamentos neste acontecimento: o que Jesus viu de tão negativo para tomar uma medida tão enérgica e qual era o prisma vivido pelos sacerdotes e vendedores dentro deste contexto.
        Nesta época era comum vendedores de vinho e animais armarem suas tendas comerciais no átrio dos gentios, ou seja, na parte externa do templo. Alem destes comerciantes também cambistas armavam suas mesas para efetuar trocas de moedas.
         Esse serviço de certa forma era prático e útil aos judeus, pois trocavam qualquer tipo de moeda por moedas de meio ciclo, que era a quantia para ser efetuado o pagamento do imposto anual do Templo conforme a lei dos judeus (Êxodo 30.13), mesmo porque as moedas estrangeiras eram cunhadas com figuras pagãs.  Alem disso trocavam moedas estrangeiras para que os compradores pudessem comprar o animal para oferta de expiação. Os cambistas através desta prática iam enriquecendo, era comum ver judeus serem enganados por estes durante a negociação, alem de todos estes fatores era cobrado uma taxa dos que necessitavam deste serviço chamado golbon.
        Não só os cambistas obtinham altos lucros, mas também os vendedores de animais que ofereciam gado miúdo, pombos e rolas para que os judeus cumprissem suas obrigações religiosas, estes além de enganar, praticavam preços abusivos aproveitando-se da necessidade nesta devida ocasião.
        Neste tempo a família sacerdotal de Anás administrava o templo. Foram eles que administraram o templo durante boa parte do primeiro século, eles eram conhecidos por seus atos corruptos. Flavio Josefo denuncia este esquema de corrupção em seus escritos, falando sobre o comércio lucrativo dentro do tempo através da venda de animais, e também a posse indevida dos dízimos por parte destes corruptos sacerdotes.
        Durante este período os sumos sacerdotes eram nomeados e destituídos pelas autoridades romanas, Anás tinha grande conceito entre as autoridades romanas, pois além de sua gestão conseguiu também junto aos romanos eleger seus cinco filhos e seu genro Caifás para ofício de sumo sacerdote. Muitos historiadores apontam Anás como o líder sacerdotal do partido dos saduceus. É bem provável que seja, pois o Talmude aponta maldições ao sacerdócio saduceu, fruto de seu lucro ilícito.
        O prisma do templo nesta época era regado por um esquema de corrupção que envolvia sacerdotes, comerciantes e cambistas. Todos estes levavam sua grande parcela de lucro e o povo no cumprimento de suas obrigações religiosas era usurpado por estes bandidos.
        Portanto esta atitude enérgica por parte de Jesus, derrubando a mesa dos cambistas e cadeiras dos que vendiam animais no templo, foi contra a corrupção que se escondia por traz deste comércio. Foi uma maneira espontânea em que Jesus expressa seu protesto contra os covis de bandidos, que estavam enriquecendo-se ilicitamente através da fé do povo.
        Diante esta atitude de Jesus cabe-nos uma reflexão, sobre os tipos de práticas exercidas por alguns líderes em nossa atualidade, que usam a fé do povo em nome de Cristo, enriquecendo-se cada vez mais, profissionais apelativos que com uma lábia ludibriante arrancam verdadeiras fortunas de seus inocentes fiéis.



quarta-feira, 16 de maio de 2012

Pode vir alguma coisa boa de Nazaré?



Nazaré era uma cidade ou vila da Galiléia, onde Jesus passou a maior parte da sua vida. Era também a cidade de José e Maria, lugar da anunciação do nascimento de Jesus. Foi de Nazaré que José e Maria saíram para ir a Belém. Foi também o lugar onde eles retornaram após os ritos de purificação.
Localizava-se atrás de uma coroa de montanhas e esta oculta de tal forma que ela só é vista no momento em que se começa a entrar na cidade. Localizada a 400 metros acima do nível do mar e a 170 km de Jerusalém. Em tempos úmidos as encostas de Nazaré ficam recobertas de flores. Pode-se dizer que Nazaré está aproximadamente na metade do caminho, entre o mar mediterrâneo e o mar da Galiléia. Mais especificamente em uma linha reta, 32 km das margens do Mar Mediterrâneo e 24 km das margens do Mar da Galiléia.
Desde os tempos de Jesus a maioria dos habitantes de Nazaré se dedicava de maneira pacífica aos trabalhos do campo. Árvores frutíferas como figueiras, laranjeiras, e vides produziam consideráveis colheitas. O clima daquela região é muito temperado e a temperatura geralmente suave, isso acontece mesmo em tempos de inverno em que a temperatura cai bastante.
A cidade possuía casas que estavam em graus irregulares, à maior parte dessas casas eram bem construídas com seus muros erguidos e solidamente fundados sobre a rocha. Às vezes era preciso cavar vários metros de profundidade para alcançar suas sapatas, seus alicerces. Nos tempos de Jesus suas ruas eram tortuosas traçadas sem nenhuma ordem. Uma cidade que estava vulnerável a grandes torrentes de água que desciam das colinas nas estações de chuva e golpeavam as edificações da cidade com certa violência. Provavelmente a cidade de Nazaré sofria nessas épocas com algumas enchentes, alagamentos e até desmoronamentos, que geravam transtornos e a até alguns prejuízos para seus moradores.
É provável que muitas das ilustrações usadas por Jesus em seus sermões e ensinamentos, teriam sido baseadas em sua vida dentro da cidade de Nazaré.  Como podemos notar no Sermão do Monte, em que Jesus faz comparação da edificação de uma casa. “Se alguém vem a mim, escuta minhas palavras e põe em prática, mostrar-vos-ei a quem é comparado. Assemelha-se ao homem que, ao construir uma casa, cavou, aprofundou e lançou o alicerce sobre a rocha. Veio à enchente, a torrente deu sobre essa casa, mas não a pode abalar, porque estava bem construída. (Lucas 6:47-48)”.
Existe em Nazaré um grande precipício, aonde no momento que se chega nessa cidade, não se passa despercebido, com aproximadamente 12 a 15 metros de altura, este deve ser aquele mesmo, onde os enfurecidos contemporâneos de Jesus o levaram para dali o precipitarem, após o seu ensinamento em uma sinagoga da cidade. A atitude destes patrícios de Jesus gerou o comentário de sua parte de que o profeta não tem honra em sua casa, esse acontecimento foi relatado no evangelho de Lucas 4: 28-29.
A cidade de Nazaré não é mencionada em nenhuma passagem do Antigo Testamento.  Também não é encontrada menção de Nazaré nos livros apócrifos, no Talmude e na obra literária, “História dos Hebreus”, de Flávio Joséfo. Devido à pequena importância de Nazaré esta cidade só passou a ter uma história, por consequência de Jesus. Se não fosse por este motivo ela seria um lugar esquecido.
Por estar localizada na baixa Galiléia, Nazaré ficava fora da corrente principal da vida israelita. Ficava bastante próxima a diversas rotas comerciais importantes, em que se podia entrar facilmente em contato com o mundo exterior. Sua posição como cidade de fronteira no limite sul de Zebulom que ficava de frente com a planície de Esdrelom, gerava certa indiferença por parte dos judeus, por motivo desta postura de independência da baixa Galiléia.
           Estes fatores faziam com que Nazaré fosse reputada e também motivo de zombaria por alguns judeus. O fato de uma pessoa pertencer a Nazaré era motivo para ser mal vista e descriminada, a ponto de não merecer nenhum crédito. Verdadeiramente Nazaré tinha uma má reputação, e Jesus frequentemente de uma maneira depreciativa era chamado de “nazareno” nos Evangelhos e Atos. Morar na cidade de Nazaré, ser oriundo de lá provavelmente era motivo de zombaria e também de piadas para os judeus.  
 O relato do evangelho segundo João, mostra a indignação de Natanael, quando Felipe lhe informa que teria encontrado o Messias, a ponto de surgir à pergunta feita por Natanael. “De Nazaré pode sair alguma coisa boa?” (João 1. 46). Pois para os judeus de lá não poderia se esperar boa coisa.           
A síndrome do julgar de Natanael está presente em nosso cotidiano, nas pessoas que nos cercam e até em nós mesmos, o fato de julgar pelas aparências. Pois até o mais desprezível lugar ou a mais “desqualificada” pessoa sempre tem algo de bom a oferecer e a ensinar. Melhor ainda é saber que Deus sempre começa seus grandes projetos com estes tipos de ferramentas, o mais desprezível, o mais desqualificado é aquele que Deus quer transformar e exaltar para sua glória. Olhar para o julgar de Natanael e olhar para nós, e saber que existe muitos que não acreditam, e privam-nos de oportunidades, mas mesmo assim é necessário levantarmos a cabeça, pois, aqui representamos aquele que pertence a  Nazaré, podendo surpreender a todos com boas obras.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

 Simeão e a espera



                                                                                                             Lucas 2. 25-35

Simeão foi o homem que apresentou Jesus no templo em Jerusalém, glorificando a Deus pelo cumprimento daquilo que Deus lhe tinha revelado, que não morreria antes de ter visto o Cristo Salvador. Estes acontecimentos entre Simeão e a sagrada família no templo em Jerusalém, se deu durante as realizações religiosas obrigatórias para os judeus, são relatadas pelo evangelista Lucas.

Alguns historiadores apontam que esse Simeão tivesse sido filho do famoso rabino Hilel e pai de Gamaliel, mencionado em (Atos 5:34), que foi o mestre de Paulo de Tarso. Se realmente Simeão foi pai de Gamaliel, provavelmente foi um rabi de alta consideração. Diz à tradição que ele foi chefe do Sinédrio.

A literatura apócrifa do século II, Proto Evangelho de Tiago. Transforma Simeão em sumo sacerdote, sucessor de Zacarias, pai de João Batista. A tradição também tem-no feito um essênio, reverenciado como possuidor de dons proféticos. Esse mesmo homem teria repreendido Arquelau, um dos descendentes de Herodes o Grande, por haver-se casado com a viúva de seu próprio irmão, tendo predito sua queda.

  Não se sabe ao certo dizer quem era Simeão, se sacerdote, rabi ou profeta, mas, pode-se afirmar que este homem tinha um altíssimo conceito e respeito na comunidade religiosa judaica, sendo um homem de destaque e autoridade para seus contemporâneos religiosos. Sabemos tão somente que Simeão gozava de uma presença especial do Espírito Santo em sua orientação análoga.  Aquela forma superior de vida espiritual que em dias antigos era expressa pela menção, andar com Deus.

Simeão era um homem justo, piedoso e temente a Deus. Este homem esperava a consolação de Israel, que é uma referência direta a promessa e as profecias messiânicas. 

Essa expressão “Esperava a consolação de Israel” v v  25, quer expor: O gemido sob o governo do idumeu Herodes e o seu pesado jugo imposto pelos romanos. O povo teocrático tinha a necessidade, como nas épocas mais gloriosas de sua história, de um consolador que enxugasse suas lágrimas tirando-os de seu sofrimento. Em épocas de degeneração e apostasia por parte dos sacerdotes, Deus sempre teve seus seguidores devotos, como Simeão.

Simeão esperava a consolação de Israel e também ver Jesus, o messias, pois o Espírito Santo lhe revelou isso. E foi pelo Espírito Santo que ele foi levado ao templo, onde encontrou a criança com seus pais.

Quando Simeão entrou no templo, ocorreu que era ele exatamente o sacerdote escolhido para realizar o rito da apresentação, ou pelo menos agir como substituto naquela ocasião. A alegria de Simeão é expressa por palavras proféticas messiânicas, que agradaram a José e Maria, maravilhando-se com o que ouviam de Simeão.

Simeão alegra-se plenamente e expressa ( v v 29 e 30) que o Senhor já poderia levá-lo, pois seus olhos já viram a salvação. Com seus olhos ele viu o redentor conforme Deus lhe havia revelado.

Simeão nos trás uma lição de como administrar o tempo, pois ele venceu o tempo e já avançado em idade pode contemplar o comprimento da revelação de Deus em sua vida.

 Verdadeiramente todo aquele que em sua fé espera algo de Deus, necessita ter ciência para distinguir os dois tempos propostos nessa busca, o tempo do homem e o tempo de Deus.

O tempo do homem é o tempo contado em minutos, horas, dias e anos, é o tempo do já, da ansiedade, do imediatismo, pois é natural do homem ter pressa quanto mais aquele que espera algo grande de Deus.

O tempo de Deus já não se pode cronometrar, é o tempo perfeito, que chega para trazer alegria e somar, mesmo que pareça que este tempo demore ele sempre chega na hora certa, e o momento certo é perfeito.